Três minutos de silêncio…
(D´un Point-Coeur à l´autre, n° 46, março de 2004)
Três minutos para lembrar-se. Os acontecimentos se encadeiam uns aos outros. Como para destruir o tempo ao qual só o silêncio dá toda sua densidade. Alternativamente o SRAS1, um tremor de terra, a queda da Bolsa, os tumultos haitianos tomam como de assalto os boletins de informação do mundo inteiro… E às vezes isto de que falamos na véspera com tanto clamor parece não mais existir no dia seguinte. Uma palavra é o máximo que ainda se pode ouvir. E portanto, o Haiti e seus problemas existem ainda, a epidemia do SRAS talvez não seja definitivamente vencida… é preciso lentamente voltar aos acontecimentos para que eles falem, para que eles entreguem seus segredos, para que eles ensinem. Os acontecimentos do mundo e os acontecimentos de minha vida. É preciso lembrar-se! Que a memória possa prevenir os dramas de amanhã…
Três minutos para pensar. Em meio às prateleiras do supermercado, em meio às máquinas e aos computadores, em pleno tráfico, três minutos para refletir o sentido de tudo isto, aquilo que constitui além de tantos barulhos e movimentos, o essencial, o caminho que a humanidade toma. E pensá-lo na presença de corpos espedaçados dos Madri e de sua família em luto ou… de gestos de ternura de Madre Teresa. Para compreender que não existem atos isolados, palavras sem amanhã, pensamentos neutros, que tudo tem um sentido… membros de um mesmo corpo, somos intensamente ligados uns aos outros.
Três minutos para rezar. Pensar em todos estes acontecimentos que tão rápido se encadeiam e que nos colocam perante nossa impotência. Impotência, para bem se compreender o porquê. Impotência em dominar o futuro. Impotência para gerar hoje o shoah2 do povo judeu, o massacre cambodiano, a catástrofe de Chernobil, a guerra do Iraque… Nós os sabemos: a situação não é para manter-se imóveis » , quem quer que sejamos. É preciso agir, é preciso falar, é preciso lutar. Mas, o que dizer? Como agir? Lutar em que sentido? É preciso agir, e lutar, e falar em nome de Jesus Cristo. Ele o sabe. Se a história se desvia, não é à força de se esquecer do Mestre? É preciso adorar Deus. Para nos ajudar a compreender nosso lugar. É preciso tornar-nos mendigos de Deus. Para receber nosso pão de cada dia. Ele é o Pai, nós somos seus filhos salvos pela Paixão do Seu Filho. E isto não é somente uma realidade que concerne à vida privada de cada um. É uma realidade pública e objetiva a que o mundo inteiro está chamado a reconhecer para melhor corresponder ao seu destino.
Atentados, nunca mais! Silêncio, verdadeiro silêncio, cada vez mais!
Pe. Thierry de Roucy
1. vírus da gripe do frango – na Ásia
2. Palavra judaica que significa exterminação
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