De um Ponto Coração a outro, n° 42, março de 2003
QUANDO Jesus houvera declarado o senso de sua missão:
« Para isso nasci
e para isto vim ao mundo:
para dar testemunho da verdade.
Quem é da verdade escuta minha voz » (Jô 18, 37),
Pilatos exclama de repente :
« O que é a verdade? »
Em seguida, ele sai e diz aos judeus não ter achado nenhum motivo de condenação nesse homem. Mas Jesus, em breve, será crucificado...
Pilatos escutou os grandes sacerdotes, ele escutou o povo, ele escutou o Cristo. Ele não sabe mais. Sua inteligência está perturbada. O que decidir ? Sem dúvida Jesus tem razão, mas outros falam mais alto... E pensar que cabe a ele, Pilatos, julgar e julgar rápido: logo será a Páscoa!
Pilatos está diante de Jesus. Ele escutou Jesus. Ele viu Jesus. No entanto, ele não sabe reconhecer o Inocente. Ou não tem força para reconhecê-Lo. Nos conflitos, nas guerras, nas situações polêmicas, nós ficamos diante de muitas mentiras, enganos, falsificações ou omissões, como determinar a verdade ?
Eu escuto o esposo que justifica seus direitos. Eu escuto a esposa que chora seu sofrimento. E eu me pergunto : « Onde está a verdade ? »
Eu recebo o dono de uma empresa que me dá as razões de suas decisões. Eu recebo seus empregados que me dizem suas dificuldades para viver. E eu me pergunto : « Quem tem razão ? »
Eu assisto a televisão americana. Eu assisto algumas imagens dos canais iraquianos. E eu me pergunto : « Quais são as imagens verdadeiras ? »
Minha inteligência está sofrendo. Com freqüência. E, no entanto, às vezes me cabe fazer um julgamento e fazê-lo rápido ! Tomar decisões e tomá-las rápido ! Eu tremo. Eu sou, então, mais mendigo do que nunca. E eu me digo : « Felizes aqueles que não têm o que julgar ! E por que os que não estão aptos o fazem com tanta solicitude ? Quando não sabem nada além de algumas fofocas. ». Eles se arriscam tão facilmente por estarem errados! E por ferirem tão fortemente ! « Aquele que não julga não será julgado ! »
De minha parte, muitas vezes sou a favor daquele que se defende menos, admirado pelo fato de que em geral nós apoiamos quem fala mais forte, quem não cessa de se justificar. O lobo grita mais alto do que o cordeiro. O culpado freqüentemente se defende mais do que o inocente. O culpado quer salvar sua vida... e o inocente morre para que triunfe a verdade... E a verdade acaba triunfando. Após muito sangue... Após muitos sofrimentos... Um dia saberemos. Quem dos dois, Estados Unidos ou Iraque... este ou aquele...
Nesta terra como é difícil saber a verdade de cada situação, de cada acontecimento, de cada conflito ! Nós somos esquartejados, crucificados. Esquartejados, mas não aniquilados... crucificados, mas não desesperados... Pois conhecemos a verdade única. Ela se encarnou. Ela tem um rosto. Um rosto de misericórdia. Um rosto de humildade. O rosto do Cristo. Meu rochedo. A luz que me ajuda a compreender o dia de hoje. O sentido de minha existência. Ela tem um rosto. Aquele da Igreja que hoje me diz: « a guerra jamais resolverá os conflitos ». Então, eu busco a paz...
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